“Bem, em primeiro lugar, por causa do admirável poder do Espírito que permeava tudo o que Francisco fazia e dizia. Talvez uma única história já seja suficiente. Clara, que a essa altura já havia fundado a “Segunda Ordem” dos franciscanos, as “Clarissas pobres”, pedia constantemente a oportunidade de ter uma refeição com Francisco, mas ele nunca atendia a seu pedido. Finalmente, alguns irmãos insistiram com ele para que concordasse e disseram: ‘Pai, parece-nos que essa severidade não está de acordo com a caridade divina […] principalmente se considerarmos que ela abriu mão das riquezas e da pompa deste mundo por causa da sua pregação’. Francisco acabou se convencendo, e marcou-se um encontro na igrejinha de Santa Maria dos Anjos. Francisco tinha uma refeição preparada e servida no chão, como era seu costume.

Encontrando-se na hora marcada, ‘São Francisco e Santa Clara sentaram-se juntos, ele, com um de seus acompanhantes, e ela, com uma acompanhante dela, e todos os demais acompanhantes reunidos ao redor da humilde mesa’. Quando comiam, Francisco ‘começou a falar sobre Deus de forma tão doce, santa, profunda, divina e maravilhosa que ele próprio, junto com Santa Clara, sua companheira, e todos os outros acompanhantes deles naquela pobre mesa foram arrebatados em Deus’.

Enquanto isso, o povo de Assis se horrorizava ao ver a distância a igreja de Santa Maria dos Anjos e toda a floresta que a cercava envolvida em chamas. As pessoas subiram correndo a colina, na esperança de apagar as chamas antes que tudo se perdesse.

Quando, porém, chegaram à pequena igreja, não acharam nada errado. Nem a igreja nem a floresta estavam em chamas. Nada. Ao entrar na igreja, descobriram Francisco, Clara e os demais ‘sentados ao redor daquela mesa muito humilde, arrebatados em Deus pela contemplação e investidos de poder do alto’.

Então compreenderam que o fogo que viram não era um fogo material, mas espiritual. As chamas que viram eram ‘para simbolizar o fogo do amor divino que queimava na alma’ daqueles servos simples de Cristo.

“O resultado desse acontecimento extraordinário foi que o povo de Assis voltou para casa com grande consolação na alma e com santa edificação”.