A Igrejanão cumprirá sua missão se não levar em conta a importância do protagonismosociocultural das juventudes.
Por Felipe Magalhães Francisco*
As instituições religiosas se preocupam com as juventudes. Muitas vezes, essa preocupação se restringe à questão da sobrevivência: muitas comunidades religiosas acabam por acompanhar aquilo que é próprio de nosso tempo, a saber, o envelhecimento sem renovação de adeptos. Contudo, há esforços em muitas direções e sentidos, muitas vezes legítimos e eficazes, para o cativo das juventudes – ou de extratos delas – para as denominações religiosas. Mas o fato de esse ser um desafio que tem se mostrado permanente, leva-nos a pensar que há alguma pedagogia ainda por ser fazer e desenhar, no que toca à pertença religiosa das juventudes.
Não há dúvidas de que o pontificado de Francisco seja uma tentativa da Instituição Católica de responder a alguns desafios bastante interpeladores do atual contexto mundial (certamente, ele tem ido além das expectativas curiais, o que revela a forte resistência que tem encontrado em setores bastante fortalecidos da Instituição). Uma das questões que compõem o pano de fundo do atual momento eclesial, que tem em Francisco um guia importante, é da pertinência do cristianismo católico na contemporaneidade. Em um processo já estabelecido de secularização e em um mundo de constantes e rápidas mudanças, a Igreja Católica continua pertinente? Em outras palavras: o específico da fé cristã, ao qual corresponde à vocação e missão da Igreja Católica, continua sendo uma palavra responsável e frutífera em nosso tempo de tantas e diversas ofertas?
As juventudes são um extrato social importante nesse novo contexto. E toda e qualquer tentativa de afirmação da pertinência e importância da mensagem cristã não pode prescindir de uma atenção que se volte a elas. Aqui, revela-se uma dimensão importante: não se trata de conquistar os jovens para que a instituição não pereça, num futuro sem adeptos; mas a Igreja não cumprirá sua missão se não levar em conta a importância do protagonismo sociocultural das juventudes, e se não for uma opção responsável e eficaz de contribuir no processo de descoberta do sentido da vida e do bem-viver.
A preocupação permanente de Conselhos Pastorais, Assembleias Paroquiais, Planos Pastorais Diocesanos, Conferências Episcopais e, agora, de um Sínodo sobre a Juventude mostra que, sim, as juventudes têm lugar no seio eclesial. Mas, qual lugar é oferecido a elas e qual a disposição institucional de não lhes tolher o vigor e a espontaneidade? Que a Igreja seja Mãe e Mestra, como aquela que tenha algo a oferecer, muito já se insistiu ao longo da rica Tradição. E a respeito da abertura para aprender com as juventudes a leitura do mundo, apesar de todas as fragilidades com as quais essas juventudes precisam lidar, historicamente, no fazerem-se e no assumir da própria vida?
Uma das grandes belezas da Tradição – com atenção ao “t” maiúsculo – é justamente a virtuosa tensão entre continuidade e descontinuidade. Há uma frutífera e próspera possibilidade de inter-relação, na qual não só a Igreja, secularmente solidificada, tenha algo a oferecer, no aspecto da continuidade, mas também as juventudes, iminentemente radicadas no aqui e no agora do tempo e da história, proponham aquelas descontinuidades que nos ajudem a avançar em nossa missão e existência eclesiais. Com o processo de escuta das juventudes, capitaneado por Francisco, temos, agora, uma feliz oportunidade de descobrir uma pedagogia eficaz e feliz para a relação tão fundamental da Igreja com as juventudes (seja com aquelas que já constituem a Igreja, seja com aquelas às quais somos evangelicamente motivados a dialogar e a evangelizar).
Os três textos de nosso Dom Especial apontam, cada um à sua maneira e profundidade, para a fundamental dimensão dialogal no trato com as juventudes, e para a qual o Sínodo parece se abrir. No primeiro texto, O Sínodo e uma Igreja que escuta os jovens, Vanessa Correia faz uma leitura do atual cenário religioso e se dedica a responder à questão a respeito de qual o interesse da Igreja em relação à juventude. Maicon Malacarme, no artigo Em que a igreja precisa avançar em sua relação/aproximações com as juventudes?, reflete a respeito do ser e missão da Igreja, como Povo de Deus, e aborda as interpelações que nascem dessa concepção do que é a Igreja e sua relação com as juventudes, a partir de três grandes desafios: abertura e diálogo com o mundo juvenil; a não pretensão a doutrinamentos; e a potencialização dos processos de educação na fé. Por fim, refletindo espiritualmente a respeito de O que as juventudes pedem/esperam Igreja?, temos o texto de Luís Duarte Vieira, que propõe um caminho de leitura da ação eclesial, no que diz respeito às juventudes a partir da própria ação de Jesus, inspirada nas narrativas da última ceia do Senhor com os seus discípulos.